sábado, 14 de novembro de 2009

Mario Pinheiro de Almeida

Hoje, uma vez mais, sei de forma certa e inalterável que não quero ser homenageada após a minha morte, com cerimónias, missas, flores, cemitérios, sermões sobre vida eterna.
Tenho uma relação de respeito pelo Criador, mas não de subordinação. Quando for, quero ir em paz, e não obrigar ninguém a ouvir oratórias meias ocas para encher tempo e honrar o Senhor, não quero lápides, não quero nada. Terra chega. Já lá não estarei.

Perdi esta semana um Amigo. Uma coisa muito estranha que me aconteceu na vida, já que o Mário Pinheiro de Almeida foi alguém que nada me disse das primeiras vezes que o vi. Nem à minha geração pertencia. Mas num dia, apenas num dia, em que nos recebeu, a mim e ao meu marido, na sua casa, nos mostrou as riquezas da terra que amava, a natureza que o envolvia, num dia apenas arrebatou o meu coração. E não nos passaram despercebidas as lágrimas que tentou esconder quando nos fomos embora. Pois era um homem essencialmente bom. Um lobo solitário que se dava de corpo e alma às pessoas que o acarinhavam.

Sucederam-se mais momentos em que estivemos juntos. E nunca, mas nunca mais voltámos a ser os mesmos. Ficámos mais ricos, ficámos maiores interiormente.

Hoje foi o depositar das suas cinzas na terra que amava. Uma homenagem que lhe quiseram fazer e que ele gostaria concerteza. Acredito nisso. Mas também me custa saber que só após a sua morte alguma conciliação entre terceiros foi possível. Antes não seria possível? Revolta-me pensar nisso. Ter que morrer alguém para haver paz. Por isso, vou esquecer as tuas cinzas e a homenagem...e lembrar o teu sorriso bonacheirão, as tuas calças de ganga rotas, a tua barba crescida à teenager, as tuas histórias, as conversas sobre música, a tua alegria quando nos vias felizes, os teus ovos de 2 gemas que nos prometeste, as nossas trocas de galhardetes através do gmail, o modo ternurento como me chamavas redonda, o gozo com que eu te chamava quadrado...e esquecer que já não estás mais. É assim que eu quero pensar em ti e não dentro de um recipiente num jazigo. Tu sabes, onde quer que estejas, que continuo a gostar muito de ti, mesmo sem lá ir e mesmo sem falar de ti.

Em tua memória, e só tu sabes bem porquê, vou abrir os meus blogs a todos, pouco me ralando com os futuros comentários. E não vou retirar o teu nome da minha lista de amigos do gmail. Não vou retirar o teu nome de lado algum.

Bem hajas.