Rodrigo Pinto tem um enfisema pulmonar e problemas cardíacos que o impedem de trabalhar, nos últimos dois anos e meio. Perdeu direito ao subsídio de doença e, por isso, regressa ao trabalho na próxima segunda-feira.
Cansa-se com facilidade, não consegue pegar em pesos e os dias começam invariavelmente com uma batalha surda com ar que teima em não entrar nos pulmões. Razões para a baixa atestada pela médica de família, mas dificultada pela decisão da junta médica a que compareceu no início de Março.
Segundo os médicos da comissão de avaliação, Rodrigo Pinto, de 60 anos, morador em Rio Tinto, Gondomar, pode continuar em casa, sem trabalhar, mas por se encontrar com a situação clínica estabilizada não continuará a receber o subsídio de doença. Uma decisão mantida pela comissão de reavaliação, a que compareceu na última sexta-feira.
De acordo com as informações prestadas pela Coordenação Médica, e cedidas ao JN pelo Instituto da Segurança Social (ISS), a decisão baseou-se no questionário clínico feito a Rodrigo Pinto, no exame efectuado durante a junta médica e ainda na declaração do Hospital de S. João, segundo a qual "o doente apresenta-se em seguimento regular na consulta de Pneumologia com estabilidade clínica sob terapêutica".
"Qualquer pessoa percebe a minha dificuldade em respirar", indigna-se Rodrigo Pinto. "A médica só me auscultou e disse logo que estava bom", explicou. "Deve ter sido milagre", ironiza.
Perante a manutenção da suspensão do subsídio, Rodrigo decidiu voltar ao serviço na próxima segunda-feira. "E seja o que Deus quiser", diz baixinho. "É que sou um picheleiro dos baratos... Daqueles que fazem todo o tipo de serviço, quer faça chuva ou sol", contou, numa voz ofegante como se acabasse de subir um lanço de escadas. "Não posso ficar em casa sem os 350 euros de subsídio... Só em medicamentos gasto 70 euros por mês", disse. De acordo com o ISS, Rodrigo Pinto poderá vir a beneficiar de outras prestações sociais, como o Rendimento Social de Inserção. Mas para já, o picheleiro nem quer ouvir falar dessa possibilidade. Alimenta ainda a esperança de que o resultado dos exames, entretanto marcados pelo Hospital de S. João, justifiquem uma nova baixa remunerada.
Ninguém explicou de viva voz as possibilidades que Rodrigo Pinto tem para se manter em casa, beneficiando de alguma outra prestação social. E, na dúvida, o picheleiro regressa ao trabalho. "Eles ganham sempre", queixa-se.
In "Jornal de Notícias"
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Provavelmente, se esta pessoa fosse alguém a sofrer de uma depressão que tão "in" está agora, e pudesse ser tratada com xanax que tão na moda tem estado, com possibilidade de baixa psicológica admitindo saídas e cinema para arejar a cabeça, e compras para alguma distracção (não vá dar em doido fechado em casa), estaria realmente doente e não apto a trabalhar. Respirar mal e batimento cardíaco descontrolado não é indício de nada grave. Isso é só mesmo preguiça e a comissão de reavaliação agiu correctamente...
ResponderEliminarEnfim...isto assusta-me mesmo...quando penso que tenho em casa uma filha com um problema pulmonar que muitas vezes a debilita fisicamente, mas que é detentora de um espírito forte e lutador, superior a qualquer xanax e status zombie, que trabalha quando pode e não pode... É este o futuro dela nas mãos de comissões que auscultam em linha de série? Next, please!!!!